.
Precisamos começar a ler a Bíblia com a ótica do oprimido;
tentando intuir o peso do sistema opressor, discriminatório e cruel.
Não precisamos ler a Bíblia com teses pré-estabelecidas, mas encarnando a realidade e notando a sorte de quem se encontra em becos sem saída.
Jesus foi um alento para escravos.
As primeiras comunidades cristãs,
longe de serem ortodoxas, se preocupavam antes em participar no sofrimento do povo.
Procurar entender as Escrituras a partir do contexto do rico é semelhante a querer entender Jesus com os olhos de Pôncio Pilatos.
Jesus era palestino, um carpinteiro pobre; um andarilho que elaborou pensamentos, tirando lições da vida de senhoras, de agricultores, de pequenos pecuaristas.
Pilatos era procurador de um poder imperial.
Quando Pôncio Pilatos perguntou “o que é a verdade”, não havia como Jesus responder satisfatoriamente,
já que os dois participavam de universos distintos.
Pilatos via o mundo com os olhos de César; Jesus, com o dos oprimidos.
Pilatos via o mundo sob o imperativo de impor o poder de Roma; Jesus,
como quem se recorda do Êxodo.
Pilatos vivia em opulência; Jesus,
entre os destituídos da terra.
Pilatos não via problema com a tortura; Jesus, agonizou sob tortura até a morte.
A espiritualidade cristã começou como indignação; como resistência de escravizados diante dos sistemas que o oprimiam.
Para fazer teologia no Brasil tem que levar em conta o tráfico de negros para cá, em ferros, com o intuito de transformá-los em bestas de carga.
O europeu que ficou rico com o suor dos corpos pretos tem a melhor interpretação da Bíblia?.
Por que os evangélicos não se perguntam? “O que Deus pensa sobre a pobreza, sobre a população carcerária predominantemente pobre e de pessoas pretas, sobre as pessoas que vivem em favelas com esgotos a céu aberto?”.
Não esqueçamos, o Deus da Bíblia toma partido, sim; ele defende quem está em vulnerabilidade; e a divindade que opta pelo lado do opressor deve ser primeiro desmascarada, depois rejeitada e,
por fim, combatida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário