sábado, 17 de junho de 2023

Termino a amanhã

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Termino a manhã me sentindo como quem abriu caixas proibidas, desengaiolou aves silvestres,
rompeu lacres enferrujados.
Termino a manhã com a sensação de que me tornei menos necessário, menos essencial, mais supérfluo sensação de dever cumprido.
Termino a manhã precisando do resguardo da mulher que pariu (doei-me até doer).
Arranquei das entranhas o que achei que deveria dizer.
Vou passar o resto do dia remoendo, repensando, pois devo vestir a carapuça do que falo antes de todos.
Olho a vida por retrovisores porque desejo melhor entendê-la.
Encaro a existência encarando-a de frente porque não quero perder o fascínio do porvir.
Evidente que jamais encontrarei o equilíbrio certo.
No passado, posso sucumbir a um saudosismo melancólico.
No futuro, posso me aventurar tresloucadamente ao incerto.
Como não acredito que minha história tem um sentido único e que não aportarei a um lugar já determinado, vivo como um farol na colina que ilumina em todas as direções por girar, sem parar, em torno de si.

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