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O caso do presidente da Caixa Econômica, denunciado por várias mulheres,
por assédio, e como ele se comportou na sequência,
nos mostra perfeitamente um exemplo dos defensores da família, das tradições e da pátria.
Não tendo mais como se esconder,
o conservado vai a público com sua esposa e cita os filhos.
As vítimas, como sempre, são desqualificadas, declaradas mentirosas.
E se for "uma só", sem chance.
Precisa ter muitas outras vítimas, e tem.
Mas lá estava ele num evento público com a esposa falando sobre os filhos e sobre os quase 20 anos de um "casamento feliz".
Para esse tipo de homem, não importa a família das mulheres assediadas por ele, o casamento delas, elas próprias.
E para esse tipo de homem, o mais importante de tudo em um casamento é o tempo que ele dura,
é a contagem do tempo, é bater record, como em gerações anteriores.
O tal ex-presidente da Caixa, "homem de Deus", reproduz o comportamento de tantos outros "homens de Deus", comedores de hóstia, comedores de pão e bebedores de suco de uva, adoradores do bezerro de ouro, que manda uma aliada "passar para trás" para não atrapalhar o vídeo dele com outros homens da espécie.
Todo homem recorre à família, à igreja ou á bíblia para se proteger. Para isso, aparições públicas com a família são fundamentais, assim como fotos em igrejas, assim como exposições públicas com uma bíblia bem grande, fechada embaixo do braço.
Protegidos por um desses panos de fundo, os homens agem livremente.
E ainda citam Deus, o Deus judaico-cristão, para se protegerem ainda mais, e os tops ainda decoram um versículo bíblico que repetem à exaustão.
E a cada um que é descoberto, o governo e as denominações evangélicas repetem o mesmo mantra: "foi um caso pontual "; "foi um caso isolado".
Quantos casos isolados seriam necessários para revelar uma prática coletiva?
Quantas orações com imposição de mão são necessárias para caracterizar um abuso contra mulheres?.
Quantas xacras precisam ser tocados, removidos dos corpos de mulheres?.
Quantas partes de corpos femininos precisam ser benzidos?.
Quantos chefes e agentes desse governo ainda precisarão colocar ou retirar objetos de bolsos de trás da calça de mulheres?.
Tudo caso isolado.
Tudo caso pontual.
"Não representam esse governo cristão".
"Não representam essa ou aquela igreja."
Tudo "homens de Deus".
As "punições" do governo são as mesmas das igrejas: transferir; mudar de função; emitir uma nota padrão, só trocando o nome do homem anterior pelo da vez.
São muitos pontos em comum entre o Cristianismo comandado por homens e esse governo de homens.
Daí toda essa promiscuidade entre pastores, padres e governo.
Se sentem representados, empoderados.
A linguagem do presidente mais adorado em toda a nossa história republicana pelos pastores evangélicos, a forma desrespeitosa como se refere às mulheres, sempre impunemente, sempre respaldado pela presença de mulheres que o aplaudem dão o tom para os seguidores.
O governo atual é uma igreja evangélica gigante da qual o presidente é bispo primaz, apóstolo, pastor, semideus.
Todo evangélico minimamente honesto é capaz de ver nesse governo, de alguma forma, uma espécie de igreja evangélica ampliada.
Quando o presidente quer fazer discurso racista, se faz acompanhar de hélio, que ri, concorda e aplaude. Quando quer ser misógino, se faz acompanhar de michele, damares, tereza.
Quando quer ser mais antiCristo que o normal, se cerca de pastores e padres.
Táticas de opressor, que precisa coptar uns oprimidos para fortalecer suas arbitrariedades.
Para essa gente, mulheres são apenas corpos nos quais os corpos dos homens escolhidos do Deus se encaixam.
Umas escolhidas, se obedientes, podem até vir a ser mães dos filhos desses homens.
É a desobediência feminina que faz aumentar os casos de feminicídio.
Desde Vasti, mulheres desobedecem e complicam nossas vidas.
" É muito difícil ser homem no Brasil".
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