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E se chegasse aqui, de repente,
um casal nordestino,
ela com dor de menino,
precisando de um cantinho
para dar a luz
no auge da alta temporada?.
A história seria diferente?.
Ou seria assim:
"Na garagem de uma pousada,
no litoral do Rio de Janeiro,
num país chamado Brasil,
nasceu um menino,
chamado de Severino,
filho de Severino José
e de Severina Maria..."
Quem de nós teria
feito a história ser diferente?.
Assim, de repente:
"Pessoas de classe média da cidade
acolheram o casal
e o menino nasceu confortável
no hospital particular.
Depois arrumaram um emprego
para José trabalhar,
e uma vaga para Maria estudar
na universidade."
Ou, quem sabe, assim:
"o casal apareceu
numa vila de pescador,
ela já sentindo dor
de menino.
Foram acolhidos na casa simples
de outro Severino,
também nordestino,
com muito carinho.
e lá nasceu o menino,
que também tornou-se pescador."
Ou, por último e a pior de todas:
Foi uma noite de horror.
A cidade cheia.
O casal não sendo acolhido,
buscou abrigo
na pequena marquise
da igreja no litoral do Rio de janeiro,
protegida com instrumento
de arquitetura urbana hostil,
e Severina Maria
perdeu a poesia
que estava em sua barriga
porque passou do tempo
do seu menino nascer.
Então não haveria Natal.
Ou haveria.
Ela teria dado a luz o menino
ali mesmo na rua,
aqui no Coreto.
O Natal não é sobre um dia perfeito.
É um dia sobre um menino nascendo no fronte da desigualdade.
Que os meninos e as meninas
de quase 30 Marias de nossa cidade,
mortos, recentemente,
nas maternidades não caiam no esquecimento.
Só existe Natal nesse momento,
porque nenhum deles era você.
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