quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Poema sobre a meritocracia

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A meritocracia diz que você cresce por mérito e quem não o faz é por preguiça ou descuido.
Em outra instância, sob o lema da justiça, decide-se atacar um povo destituído de condições de defesa, numa desordem política, econômica e ideológica.
E num ângulo bem mais próximo de nossa experiência diária, há aquelas situações em que nos deparamos com uma busca desenfreada por fazer tudo certo, medir os gastos e despesas, sem deixar nada de fora, no âmago por ser justo e correto.
E nesse meio tempo, atropelamos quem nos surja pelo caminho, cegos em nossa integridade, a fim de não nos desviarmos das leis que impusemos a todos os que nos cercam.
São lágrimas que ignoramos, mãos estendidas que não cabem em nossa justiça, um peso que devemos colocar sobre todos, sem ao menos perceber a distinta condição de cada pessoa.
Neste mundo não há espaço para a misericórdia.
Não vivemos numa democracia,
nem lutamos por coisa alguma além de uma vil e cruel meritocracia.
Será que seria o caso de começarmos por medirmos a nós mesmos se não vivemos recompensando somente os fortes, os esforçados, aqueles que atendem às nossas expectativas?.
Será que não seria o caso de olharmos o outro nos olhos antes de batermos o martelo da justiça, determinando um peso igual a todos que, tragicamente virá a massacrar alguns?.
Será que não seria o caso de desmontarmos nossos sistemas de justiça, recompensa e punição, pararmos de ‘dar nome aos bois’ e analisarmos a vida humana acima dos sistemas políticos e econômicos?.
É difícil ao ser humano aceitar a misericórdia, já que para isso é necessário se desarmar, se despir de suas ideologias e justificações, trazer o outro que o desafia no mesmo patamar para ouvi-lo, atender suas necessidades e promover a reconciliação.
Ideias como estas são por demais subversivas, já que não premiam o esforçado, o mais forte, nem o mais justo.
Isso ataca nossa altivez e nos coloca a todos no mesmo nível, sob a mesma condição.
A maior dificuldade em tudo isso é enxergar além dos rótulos,
das ideologias, dos sistemas políticos e econômicos que já estão encrustados em nossa pele, em nosso sangue e em nossa história.
O pensamento que é regido desde a infância pela meritocracia dificilmente sairá ileso caso decida fugir das linhas que limitam sua justiça própria.
Pobre daquelas pessoas, em um país que qualquer mérito próprio é prontamente transferido para instituições, organizações e ideologias.
Agora o exemplo deles é o exemplo de cada teoria,
cada partido,
cada movimento,
cada politica.
A vitória deles é um tapa na cara da direita,
da esquerda,
do machismo,
do feminismo,
da meritocracia... 
cada um usa a vitória deles como se de fato fosse seus.
Assim como deve aos primeiros militares, deve a esquerda pelas politicas de inclusão e pelo fim da meritocracia, deve a direita.
Somos uma coletividade de preguiçosos, vestindo o mérito alheio como se de fato fosse nosso.
Não creio em meritocracia, pois entendo que nem todos desfrutam da mesma oportunidade de crescer, desenvolver-se e produzir.
Uma coisa é não ter oportunidade,
outra é tê-la, mas negligenciá-la.  
Eu creio na esperança de um milagre que ocorre no interior do coração humano, transformando opressores e exploradores em potencial em seres generosos, cheios de amor pelos seus semelhantes. 


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