sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Eu fico com a pureza da resposta das crianças

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Recriançar-se é voltar a enxergar o mundo como uma imensa área de recreação.
Tudo passa a ser ressignificado.
Criança brinca.
Adulto trabalha.
Ambos transpiram com o que fazem.
A diferença é que o que a criança faz é meramente por prazer, enquanto o adulto encara o trabalho geralmente como dever.
É a busca pela criança que se perdeu dentro de si que faz com que o adulto se entregue a uma busca desenfreada por prazer, seja pelo uso de entorpecentes, pela prática sexual, pelo jogo, e até pelo trabalho quando se torna vício. 
Para o adulto, o mundo perdeu sua magia.
As cores que tingem a vida se desbotaram.
Aos poucos, a vida vai se tornando num tédio insuportável.
Ele já nem lembra qual foi a última vez em que fez algo pela primeira vez.
Para a criança, tudo é novo, tudo é descoberta.
Recriançar-se, portanto, é redescobrir o aspecto lúdico da vida.
É romper com a rotina, surpreendendo a retina.
É permitir que as coisas simples do cotidiano se revistam de um significado extraordinário.
Quando um adulto redescobre o prazer de ser criança, o trabalho se torna numa grande brincadeira.
Não que perca a seriedade, mas deixa de ser visto como castigo.
O processo passa a ter mais importância do que o resultado.
A satisfação independe da gratificação econômica, que passa a ser visto apenas como um reforço positivo. 
Até o sexo recobra sua natureza lúdica.
A pressão se dissolve.
O intercurso sexual é como brincar numa gangorra, onde os parceiros se alternam para dar e receber prazer reciprocamente.
Ou como brincar de balanço, desejando impulsionar seu parceiro a alcançar as alturas.
Portanto, recriançar-se não é tornar-se inconsequente, ingênuo, sem noção do perigo que nos rodeia.
Somos crianças que cresceram, que entendem os mecanismos deste mundo.
Todavia, quando baixamos o programa da maturidade, nosso antivírus identificou um programa malicioso, e o colocou de quarentena.
Um dia ele será totalmente erradicado. 
É a malícia que trava nossa máquina, deixando nosso sistema inoperante.
Submeter-se à sua nefasta influência equivale a sabotar a própria existência.
Desprovidos de malícia, a vida recobra seu encantamento original. 
Lamentavelmente, a maioria parece adotar uma visão de mundo inversa.
Tornamo-nos adultos na malícia, e crianções no entendimento.
Jesus disse que se não voltarmos a ser crianças, experimentando o que ele chama de “nascer de novo”, não estaremos habilitados nem a ver, tampouco a entrar no reino de Deus. 
Adultos são sempre barrados no baile do reino.
A senha que libera sua entrada é o novo nascimento, que nada mais é do que recriançar-se.
A partir daí, qualquer programa roda com leveza e a vida passa a fluir naturalmente. 

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