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Houve um tempo em que as vozes do evangelho transitavam nos becos e vielas, entre os cansados e oprimidos. Mas na medida em que a fé dos sobrecarregados resbalava para os palácios e tronos, se tornando instituição de domínio e poder, virando sistemas nas grandes escolas teológicas,
tornando assunto dos sábios e dos entendidos.
Quando a mensagem migrou da marginalidade para a centralidade,
a imagem de um Cristo que veio para os excluídos, cansados e sobrecarregados, foi aos poucos sendo desfeita.
A fé que tinha como dogma único o amor, passou a ser estruturada com teologias de triunfalismo, conquista de território, reivindicações.
Detentores da fé, com sangue nos olhos, impondo seu falso cristo à sociedade, passou a ser comum.
Trocaram o Deus conosco, Deus da gente, Deus do povo, Deus do cansado, pelo "Deus acima de todos", um Deus que não se junta com essa "gente imoral", mas que os castiga através do estado que o oprime,
e que tenta calar o grito dos oprimidos, demonizando suas causas e negando-lhes os direitos.
Com o domínio da mensagem nas mãos dos poderosos, todo o evangelho passou a ser reinterpretado.
Nem sempre a intenção foi desonesta, mas a leitura do evangelho pela ótica do rico e do poderoso, dos "sãos", não poderia ser a mesma leitura do ponto de vista do pobre e do oprimido, dos doentes.
Desse modo, quase tudo o que temos de teologia cristã católica e protestante,
vem sendo dominada e interpretada,
não mais pelos escravos, pobres, leprosos, excluídos e marginalizados, mas pela elite do mundo.
E o resultado disso é um cristianismo deturpado, que desviou o Deus do oprimido para um suposto "Deus de todos", que acaba sendo muito mais do opressor do que do oprimido.
A boa nova é alívio para o oprimido, para o doente.
Isso não quer dizer que os sãos, os ricos, e os privilegiados da sociedade não podem receber o evangelho.
Quando o forte carrega a cruz do fraco, ele se torna participante do sofrimento, então o evangelho se torna boa nova para ele também.
Quando o são cura o doente, quando o rico compromete sua riqueza pelo pobre, quando os que riem passam a se envolver com os que choram, quando os "bem sucedidos" se ocupam com a causa dos que padecem, então todos se tornam participantes do sofrimento do oprimido, e para todos esses a boa nova do evangelho é anunciado.
Ao jovem rico Jesus oferece a oportunidade de ser um participante do sofrimento do pobre, mas ele o rejeitou. Ao rejeitar o pobre, ele rejeita a Cristo.
Deus é um Deus dos oprimidos, e quando ficamos ao lado do oprimido, Deus se torna o nosso Deus.
Em nome de um cristo estão matando Jesus de Nazaré novamente: no pobre, nas minorias, nos que sofrem, pois ele mesmo disse que o que é feito com os pequeninos da terra, Ele próprio seria a vítima!.
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