quinta-feira, 20 de agosto de 2020

O que verdadeiramente mata o Brasil

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O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje estão retido movendo o 
carmesim de ministros.
Os ministros não confiam no parlamento, apesar de o trazerem empregos.
Os eleitores não confiam nos seus representantes,
porque lhes gritam em vão: Sejam honrados, e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial.
Os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque,
deitando uns aos outros, combatentes amigos com olhares de ameaça.
Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença.
O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos.
Esta desconfiança nos mata mais que um vírus laboratorial, pois não se pressupõem soluções nem resultados definitivos, apenas grandes torneios de palavras, discussões pesadas e sonoras.
O país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político,
as mesmas ameaças de fisco, a mesma decadência.
A política, sem atos, sem fatos, sem resultados, é estéril e adormecedora.
Quando numa crise as discussões, as análises refletidas, as lentas cogitações, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação.
Nós não somos impacientes.
Nós não somos unidos.
Nós não sabemos cobrar.
Sabemos que o nosso estado financeiro não se resolve em bem da pátria no espaço de quarenta horas.
Sabemos que um déficit firmado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.
O que nos magoa é ver que só há energia e atividade para aqueles atos que nos vão empobrecer e aniquilar; que só há repouso, moleza, sono para aquelas medidas fecundas que podiam vir adoçar a aspereza do caminho.
Trata-se de votar impostos?.
Todo o mundo se agita, os governos preparam relatórios longos, eruditos e de aprimorada forma; afiam a lâmina reluzente da sua argumentação para cortar os obstáculos eriçados: as maiorias dispõem-se em concílios para jurar a uniformidade servil do voto. Trata-se dum projeto de reforma económica, duma despesa a eliminar, dum bom melhoramento a consolidar?. Começam as discussões, crescendo em sonoridade e em lentidão, começam as argumentações arrastadas, frouxas, que se estendem por meses, que se prendem a todo o incidente e a toda a sorte de explicação frívola, e duram assim uma eternidade ministerial, imensas e diáfanas.
O país, que tem visto mil vezes a repetição desta dolorosa comédia, está cansado: o poder anda num certo grupo de homens privilegiados, que investiram aquele sacerdócio e que a ninguém mais cedem as insígnias e o segredo dos oráculos.

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