terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Ano Novo

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Eu desejaria que o Novo Ano
trouxesse no ventre morte, peste e guerra.
Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em coletividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.
Eu desejaria que o Novo Ano
Trouxesse na mente o amor, a bondade e a obediência.
Amor para com todos os nossos semelhantes; bondade para derrotamos o mal de cada coração; obediência para a sociedade que não tem o espírito de cumprir o grande mandamento.
Eu desejaria que o Novo Ano
trouxesse nos braços a vida,a
energia e a paz.
Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afetivo é mais forte do que a ação; paz para os homens de boa e de má vontade.
(31 de Dezembro de 2019).









terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Desigualdade natalina

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Aquele que não tiver o Natal no seu coração
nunca o encontrará debaixo de uma árvore.
Pois o Natal é o espírito de dar sem um pensamento de obter.
É felicidade porque vemos alegria nas pessoas. É esquecermo-nos a nós próprios e encontrar tempo para os outros. 
É descartar as coisas sem sentido e sublinhar os verdadeiros valores.
O espírito do Natal é o espírito do amor,
da generosidade e da bondade.
Ele ilumina a janela da imagem da alma,
e nós olhamos para este mundo cheio de vida e tornamo- mais interessados nas pessoas do que nas coisas.
O Natal não é um tempo nem uma temporada, mas um estado de espírito.
Valorizar a paz e a boa vontade,
ser abundantemente misericordioso,
é ter o verdadeiro espírito do Natal.
Infelizmente vivemos o Natal da desigualdade social, ou o Natal desigual.
Onde vermos uma criança com um saco de presente, e uma outra com um saco de lixo.
Onde ouvimos felicitações de Natal, e também ouvimos lamentações de pessoas que não tem o que comerem nesta hora.
Na noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão,
do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão.


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