terça-feira, 20 de novembro de 2018

Poema sobre vitimismo

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Há será uma constante na natureza humana
de que não foi me concedida por parte de meu criador?.
A singularidade de que me rege transcreve o algor de minha alma dissimulada e disparatada.
Perceba vós, caro leigo, precoce e tolo,
de que belas palavras numa poesia
transparecem apenas a estética de um bravo grito mudo e transpõem os ruídos existenciais numa ausência eterna.
Tão fácil falar de amor num breve soneto,
quanto a contrapor a este em vista do diferente.
Desde que o mundo é mundo há os iguais que são mais iguais que os outros.
Ou seja: mais iguais que os desiguais.
Há cérebros que veem mais o que as pessoas possuem em comum do que o que as divide. Outros dão mais importância ao que diferencia um humano do outro.
Essa é uma clássica díade.
Mas o mundo complexo permite identificar outros formatos de cérebros.
Há aqueles que se aproveitam das desigualdades para explorá-las, em seu benefício.
Há ainda os que pensam que o melhor é viver sem os desiguais e sem os diferentes.
Diferente este combatido como epidemias.
Lindas e únicas criaturas pecadoras.
Pecadora é a mulher!.
Criada da costela, nascida para servir.
Ao homem?.
A Deus?.
Servir a si mesma!.
Como manifesto de seu poder e autonomia.
O que você chama de feminista,
eu chamo de bruxa que não conseguiram queimar.
Pecadora que só se cala com o contentamento
ou com a morte.
Pecador?.
Pecador é o preto!.
Moeda de troca, espécie que choca, nascido do gueto.
Se resistência fosse cor, ela seria preta.
Preta como a alma daquele infeliz racista.
Não há corrente dura que segure o espírito do bravo negro,
que luta para não ser chamado de negro,
mas de ser humano.
Pecador?.
Pecador é o gay?.
É o obeso?.
É o feio? .
Realmente, preciso parar de me vitimizar…
O que pode me curar?.
Uma ida à igreja?.
Uma garrafa de vinho ?.
Um tiro na boca?.
Ou uma guerra?!.
Conservadores e preconceituosos se preparem!.
A pedra que mata a travesti,
a corrente que escraviza o negro
e a mão que oprime a mulher
não são não, senhor,
tão fortes, como o meu amor.

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