.
Existe vários Natais ao menos, um é o Natal do egoísmo e da tirania,
outro é o Natal da abnegação e da diaconia; um é o Natal do ódio e do ressentimento, outro é o Natal do perdão e da reconciliação;
um é o Natal da inveja e da competição, outro é o Natal da partilha e da comunhão;
um é o Natal da mansão,
outro é o Natal do casebre;
um é o Natal do prazer e do amor, outro é o Natal do abuso e da infidelidade; um é o Natal no templo com orquestra e coral,
outro é o Natal das prisões e dos hospitais; um é o Natal do shopping e do papai noel, outro é o Natal do presépio e do menino Jesus,
um é o Natal de José, outro é o Natal de Maria; um é o Natal de Herodes, outro é o Natal de Simeão;
um é o Natal dos reis magos,
outro é o Natal dos pastores no campo; um é o Natal do anjo mensageiro, outro é o Natal dos anjos que cantam no céu;
um é o Natal do menino Jesus,
outro é o Natal do pai dele.
O Natal de José é o instante sublime quando toma no colo o Messias.
A partir daquela primeira noite jamais conseguiria dormir em paz.
Sob seus olhos e sua responsabilidade cresceria aquele de quem falaram a Lei e os profetas.
Era de José a tarefa de ensinar ao menino a respeito de sua verdadeira identidade.
Enquanto recitava o profeta Isaías: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará".
O Natal de Maria é um canto de redenção: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador”.
Jesus anuncia a redenção de geração em geração, obra das mãos do Deus que visita e abençoa os humildes e pobres, mas humilha e despede de mãos vazias os poderosos e prepotentes.
Uma redenção que transborda a subjetividade do foro íntimo e se esparrama pelo chão das sociedades injustas, atravessando o tempo e fazendo livres nossos filhos e os filhos dos nossos filhos.
O Natal do anjo mensageiro é proclamação de boas notícias a todos.
José, Maria, pastores no campo e todos os que inclinarem seu ouvido e coração para ouvir.
Menos para o menino Jesus.
A boa notícia de Deus aos homens a quem quer bem,
Ao divulgar que na cidade de Davi nasceu o Salvador, que é Cristo,
o Senhor, o anjo mensageiro desperta a ira de Roma, seus governantes e imperadores.
Somente César é Salvador, filho de Deus e Senhor.
Mas de agora em diante estaria presente no mundo aquele cujo reino jamais terá fim.
A pedra profetizada por Daniel,
solta pela mão de Deus para esmagar todos os reinos deste mundo já rolava na história,
e atendia pelo nome de Jesus.
As espadas romanas derramaram sangue inocente os impérios deste mundo sempre derramam sangue inocente, mas o Rei dos reis,
o Senhor dos senhores, sobreviveu para desfazer a grande mentira.
O Natal dos anjos cantores definiu que Deus somente é glorificado nos céus quando há paz na terra entre os homens.
Desde então, Natal é necessariamente compromisso com a justiça, convocação para a reconciliação.
Os pastores no campo deixaram seus rebanhos, que guardavam do mal, movidos pela curiosidade e pelo impulso do maravilhamento,
e quem sabe, guiados pela intuição de que naquela noite em Belém o mal estava acuado, reforçando as frágeis trancas das portas de seus territórios, sabendo já que seus dias eram contados.
Havia irrompido o tempo quando o lobo e o cordeiro dormiriam juntos,
e nenhum espírito tenebroso ousaria ferir a noite do nascimento do príncipe da Paz.
E o Natal dos três reis Magos que não eram necessariamente três, reis que não eram reis, magos que não eram magos foi tempo de adoração. Estudiosos dos corpos celestiais, viram a estrela no Oriente, e foram em busca do rei dos judeus, para o adorar.
Trouxeram consigo ouro, incenso e mirra, pois sabiam que adorar é servir, doar, presentear.
O menino que recebeu presentes enquanto na manjedoura distribuiu entre os pobres as suas riquezas e nos ensinou; quem deseja me dar um presente que o faça a um dos meus pequeninos.
Assim, até hoje, os adoradores de Jesus se espalham no mundo distribuindo riquezas, abençoando os que sofrem, suprindo os pobres, promovendo a justiça e sinalizando a paz.
O menino Jesus também teve seu Natal.
E assim o explicou.
Eu vim para que tenham vida; eu vim buscar e salvar o que se havia perdido; eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgate de muitos.
O Jesus do primeiro Natal até hoje segue seu caminho batendo em todas as portas e dizendo “quem ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele, e ele comigo”.